terça-feira, julho 22, 2008

Blatter, Ronaldo e o sismo do paradigma das sociedades contemporâneas

O atropelamento cultural, realidade dura do Manchester United...










por: Péricles, ex-cravo


Cristiano Ronaldo, o espelho fiel da escravatura actual


Sr. Blatter, humanista e defensor dos Direitos Humanos. Venha já o Nobel da Paz...

Não estou, ainda, plenamente refeito do que ouvi e li há dias atrás. Fico felicíssimo ao saber que mais de um século de desenvolvimento social, de luta permanente por igualdades sociais, de consciência mais ou menos generalizada de independência dos povos, pode cair sobre os nossos pés como um bom castelo feito de cartas de mesa. Para tanto, basta simplesmente que tal desiderato seja operado por dois homens comuns, simples mortais, que apenas têm o "privilégio" de serem ouvidos por massas. Assim foi quando a dupla Sr. Blatter/Cristiano Ronaldo resolveu conjugar esforços e mostrar ao mundo a crueldade da "escravatura" deste último. Destarte, é de especial realçe o desmoronar de um século de História, preenchido por páginas infindáveis de movimentos políticos e sociais tendentes ao fim da escravatura - o denominado ABOLICIONISMO - destruição esta perpetrada com mestria e sucesso pela dupla referenciada: do "tratado" sobre direitos humanos expresso pelo Sr. Blatter à concordância de Cristiano Ronaldo, foram postos em crise anos, décadas e séculos de factos vividos que nos dão vontade de atirar os nossos livros de História para a lareira, em noite de Natal. Bastou, simplesmente, alterar o conceito e logo a Humanidade mergulhou em profunda crise de valores... E, consequentemente, pairou sobre o mundo a consciência de que, afinal, a abolição da escravatura nas culturas ocidentalizadas é mais mítico que o golo de Pedro Barbosa apontado ao serviço da Selecção Nacional, no confronto com a Holanda, em Eindhoven, na década de 90... E tudo isto enche-nos ainda mais de orgulho ao sabermos que um dos autores é português. Afinal, tal contributo para a Humanidade não era tão magnânime desde o tempo dos descobrimentos... Tenho, assim, desmesurado orgulho em ser português, em ser compatriota do Cristiano Ronaldo.

O que mais nos apaixona neste contexto de humanização da profissão de futebolista e dos pensamentos filosóficos de Blatter e Ronaldo, são as conclusões que se podem retirar do estudo comparado entre o caso Ronaldo/MUFC/Real Madrid e as políticas colonialistas que começaram a sentir a ameaça a si mesmas a meio do séc. XIX (no seu sentido temporal e não no actual La Movida). No tocante, importa destacar a situação do sujeito, individual e concreto, e o seu estado de dependência ao longo dos tempos. Cremos que comparar um salário mensal de 180.000 contos, em moeda antiga, a um salário de alguns trapos de roupa e a escassos bens alimentares essenciais demonstra uma postura de uma nobreza inexcedível, capaz de soltar lágrimas de comoção ao mais sisudo dos demais terrestres... O seu sentido metafórico alerta-nos a todos para uma participação mais activa na construção de um Mundo melhor. "Parem de explorar o Cristiano Ronaldo!", grita o mundo em uníssono. E o que dizer então da equivalência no que respeita ao trabalho forçado? Convenhamos que ninguém fica indiferente à horrenda e maquiavélica imposição actual para que se jogue futebol de alto nível, nos melhores clubes do mundo. Para a propensão destes tenebrosos clubes colocarem os seus "escravos" na pressão da ribalta do futebol mundial. Para que os obriguem a vencer tudo o que é vencível. É desumano e todos nós temos uma palavra a dizer na repressão de tais actos, vis e cruéis.

Posto isto, e agora sim, após o desabafo, mais refeito daquilo que li e ouvi, penso que todos rezamos ao Senhor por Cristiano Ronaldo usar mais a cabeça para marcar golos do que para tudo o resto. Pena temos, porém, que Ronaldo não se limite exclusivamente à arte de tratar a bola por "tu", ao invés de, uma vez por outra, experimentar a arte da oratória. Agradecemos assim a todas as Merches e Nereidas por desviarem a boca do Cristiano Ronaldo para outros caminhos distintos dos meios de comunicação social. E tenho mesmo muita pena de, quase com certeza absoluta, Cristiano Ronaldo não ler este blog. Gostava de ter a oportunidade de lhe agradecer o facto de ter feito de mim, hoje, um homem muito mais culto...

Aquele abraço,

PÉRICLES

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