O Chicleteiro

Ponto prévio: acho Jesus um grande treinador. Provavelmente, o melhor e mais actualizado da Liga e todos sabem que não é de hoje que tenho esta opinião. Para si, o futebol não tem segredos. É um obcecado do treino, óptimo a motivar os jogadores e a maximizar as suas potencialidades. É um treinador com ganas, com sede de vitórias, que quer deixar a sua marca custe o que custar. No entanto, esta necessidade premente tende cada vez mais a denunciar aquilo que de pior pode ter um homem. Falta-lhe classe, falta-lhe fair-play, falta-lhe a humildade daqueles que ficam eternos na história. Jesus tem sempre o condão de tentar esfregar areia nos olhos do povo, quando perde ou a sua equipa é completamente subjugada aos pés de outra com menos recursos. O homem que inicia sempre os seus discursos com um "eu tinha previsto", "eu já sabia", "o que eu tinha dito cumpriu-se", qual Houdini, escondeu-se agora debaixo de mais umas desculpas esfarrapadas: choveu muito, o campo estava pesado, os meus jogadores não treinam sob estas condições climatéricas, a minha equipa não está talhada para o pontapé para a frente. Tudo isto para que fosse possível esfumar a verdade absoluta do jogo: o Vitória foi inequivocamente melhor, num jogo em que poupou mais jogadores titulares que o adversário e que contou também com um inimigo difícil de contornar (o inaudito Xistrema).

Não tenho dúvidas que Jorge Jesus regressou a Lisboa com esta convicção mas é incapaz de o tornar público. Prefere ridicularizar-se e seguir o caminho do engano, lançando camiões de areia aos olhos de quem sorri alegremente perante o seu espectáculo miserável. Esqueceu depressa que Braga também é Minho e é também bastante fustigada pelas chuvas, mas isso não o impediu de fazer um trabalho de excelência; esqueceu depressa o relvado da Luz em jogo com a Académica, mas isso não impediu Saviola de marcar um golo sublime e de o Benfica assinar mais uma goleada; esqueceu depressa o dilúvio da Luz em jogo com o FCP, mas isso não impediu a sua equipa de mostrar ao país que é a mais forte e potente; esqueceu depressa que o Vitória nunca lhe foi inferior nos 3 jogos oficiais disputados.

Jesus, um expert na arte de triturar chicletes, o afamado mestre da táctica, tem muito mérito na construção deste novo Benfica. Não há dúvidas. Mas esse é um balão que, cedo ou tarde, se esvaziará e com este cultivar de maus comportamentos duvido que alguém lhe estenda a mão. Para já tem seis milhões a endeusá-lo mas, quando a nuvem desaparecer, terá um país futebolístico que não se esquecerá de que este é o homem que pretendeu ganhar a todo o custo. Não reconhecendo mérito aos oponentes, preferindo antes tratá-los como se de meros figurantes se tratassem numa história que o há-de coroar como o rei da bicharada. No futebol, como na vida, a justiça pode tardar mas chega sempre. Nem que seja o divino a ter de tratar disso. E eu estarei cá para ver essa eminente decadência. Para já, espero que no dia 30 Paulo Sérgio e jogadores do Vitória façam Jesus puxar pela cabeça em busca de mais explicações ridículas. Depois dos 54 remates e de um campo em que as suas primas-donas não podem jogar, este domador de leões do Circo Cardinalli terá forçosamente de inovar.

Até lá!