sexta-feira, fevereiro 01, 2008

A Profecia de "Cajudix"


Existe um verdadeiro “quarto grande” no futebol português? Visita à “aldeia irredutível” de Guimarães. Táctica e mente. O 4x2x3x1 e a confiança em jogar. Só depois é que a bola vai parar aos pés.

Parecem mundos paralelos. Existe o futebol português dos “três grandes”. E existe o futebol português de todas as outras equipas. Historicamente de nariz no ar, Benfica, FC Porto e Sporting criaram quase uma ilha competitiva à parte que, ao longo dos tempos, raramente admitiu passageiros clandestinos. Eles monopolizam os jornais, a televisão e as discussões de café. Em qualquer cidade. Mesmo naquelas onde há quem sonhe em ser um intruso mais permanente nesse trio elitista. Andy Warhol dizia que, na vida, todos tempos pelos menos quinze minutos de fama. No futebol também é assim. Através dos anos, no prisma meramente desportivo, o «quarto grande» conheceu vários rostos. Mais por razões conjunturais do que por projectos de fundo. Belenenses, Académica, Setúbal, Guimarães, Boavista, Braga. Capazes de entrar no castelo do titulo, só o Belenenses no longínquo ano de 1946, e, mais recente, em 2001, o Boavista. Pensou-se, então, que o novo século poderia abrir um novo status de poderes, mas o “Boavistão” esfumou-se em pouco tempo. Dá a sensação que perdeu a noção da realidade e das bases que levaram um clube sem “base social” a um patamar tão alto. Sem isso, o seu título resumiu-se a “quinze minutos de fama”. Não há drama nenhum nisto. Em todos os países existem três-quatro clubes que mandam na história futebolística. A diferença lusa é a raridade dos intrusos. Chegamos a 2008 e os territórios de paixões do país futebolístico voltou a estar dominada pela tríade dos grandes. Todos? Não, uma “aldeia” habitada por irredutíveis resiste ainda e sempre ao “invasor”. E vida não está fácil para as guarnições de chuteiras e calções que a defrontam. Guimarães. A cidade “irredutível”, um território particular na floresta do futebol português. Pelo Estádio, sempre com muita gente, pelo entusiasmo nas vitórias, pela revolta nas derrotas, pelo cordão humano, pelo que se vê e sente-se. Por vezes, os seus adeptos abraçam o seu clube com tanta força que o acabam por sufocar. O grande desafio é atingir o estatuto de “quarto grande” independentemente dos resultados desportivos conjunturais. Desceu de divisão e ao mesmo tempo aumentou o número de sócios. Um ano após perder em Vizela e ficar afundado na II Liga, sonha com um lugar na “Champions”.


Para o trazer de regresso à vida entre os grandes, um homem que é mais do que um mero treinador. Os seus discursos confundem-se entre divagações tácticas e espectáculos de “stand up comedy”. Manuel Cajuda, claro. “Cajudix”, o chefe da tribo vimaranense. Tira a gravata para ser moderno, vagueia entre pentágonos, estratégias, histórias de vida e treinos na praia, mas, por vezes, fico com a sensação que tem algo magnético que não o deixa sair da trincheira da sua personalidade “engraçada”, como disse Jesualdo. Manipula os D.Quixotes e Sanchos Panças do nosso futebol, pressente-lhe as brechas, fura por elas e, no fim, imagina-o a rir-se sozinho em surdina atràs das portas. Já ninguém acredita, porém, quando tenta desvaloriza as questões tácticas, porque isso é a base do futebol no relvado e o seu Vitória é exemplo disso. E, no jogo, Cajuda mexe nele tacticamente como poucos. Dirão que mexe antes nas questões psicológicas. Claro, mas o jogo é isso mesmo. Táctica e mente. O 4x2x3x1 e a confiança em jogar. Só depois é que a bola vai parar aos pés. O “quatro grande” deve ter dupla personalidade. Em campo, deve ser um monumento ao atrevimento. Fora dele, nos gabinetes, nunca deve tirar os pés de terra firme. Talvez seja a dificuldade em entender esta diferença de atitudes, dos bastidores para a relva, que turve a mente e os projectos dos cíclicos candidatos a “quarto grande”. Um local onde Cajuda se move como um miúdo num parque de diversões. Com uma táctica “engraçada”. Todos sérios e Cajuda rindo-se de todos. Ou será ao contrário?

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