DA ESPLANADA DO MILENÁRIO

O NOSSO PRESIDENTE - BIOGRAFIA DE UMA LENDA VIVA

por: Péricles, vice-presidente

Quinta-feira, 18 de Janeiro de 2007. Aproximavam-se as 19 horas à mesma velocidade que o término de mais um dia de penoso trabalho. Como qualquer fulano, também eu tenho as minhas rotinas e processos mecânicos. In casu, tenho o hábito de desligar o meu telemóvel por esta hora: ora porque não quero ser mais importunado, ora porque faço questão de ter um momento só meu. Contudo, fácil será de desvendar que nesse dia 18/01 não o fiz. E se o meu venerando leitor quiser crer em coincidências, pois que seja coincidência receber o momento mais alto da minha existência via sms, a 18 de Janeiro de 2007. Passo a explicar...

Ainda no interior do meu local de trabalho, recebo uma sms de um amigo especial: ANTÓNIO EMANUEL FERNANDES. O seu teor, pareceu-me à data tão misterioso quanto o desastre em Camarate. Senão vejamos: "Meu caro amigo Péricles, escrevo-te hoje por este meio pois tenho tanta urgência em falar contigo como em detonar 3 garrafas de vinho! Vou abraçar um projecto estimulante para o qual conto com os teus doutos préstimos. Combina hora e local ainda hoje, que seja de tua conveniência. Desejoso do dia em que te cumprimentá-se, 1 abraço". Dois aspectos me deixaram desde logo apreensivo, não constituissem eles para mim inteira novidade. Primeiro, nunca conheci neste homem assunto tão ou mais vital que detonar 3 garrafas de vinho; Segundo, nunca os meus préstimos foram assim tão doutos. Porém, aquele "cumprimentá-se" não deixou 1 pingo de dúvida quanto à autoria da mensagem. Era este António que tantos petardos enfiava no português como o Roberto Carlos a bater livres directos com o meu fígado, aos Domingos, após mais uma "Queima das fitas"... De imediato respondi: "Caro António, comparece pelas 20 horas no Museu de Serralves, no Porto. Até lá". E às 20 horas em ponto, o António lá estava...

Escolhi este local porque sei que o meu amigo António é um devorador de arte. E foi assim que demos início a uma rejuvenescedora caminhada pelos formosos jardins de Serralves, discutindo temas tão fascinantes da arte contemporanea como o surrealismo de Dalí, a exposição de fotografia do artista francês Henry Ciment, ou o toque de bola de Fernando Aguiar. Um chá de tília para mim, um tomba lobos para ele, um dedo de conversa aqui, outro acolá e desesperava eu pela bombástica novidade que o António me queria dar. Eis que ela surge:

- Meu caro Péricles, queres saber qual o projecto que vou abraçar?

Aguardava por este momento com a mesma ansiedade que Fernando Santos pelo regresso de Rui Costa:

- Sou todo "orelhas"... - retorqui eu.

- Pois bem, atingi um estado da minha vivência em que me é complicado traçar metas, definir objectivos, enfim, lutar por algo. Entrei numa fase da vida em que necessito do meu momento mais alto. Quero deixar marca, ser lembrado por algo épico. Deste modo, decidi tornar-me Presidente do Vitória Sport Clube!

Espanto e encanto! Percebi no momento que são sentimentos em nada contraditórios. E rapidamente me apercebi que o meu amigo António daria um excepcional presidente. António teve um passado invejável: foi um colossal jogador, juntando à sua prateleira de títulos 1 Tuni Herrera; deu o passo seguinte e comandou as tropas do Ambiente Turco no Vitória Herrera, alcançando 1 honroso 4º posto (honroso na medida em que foi cometido o "crime" de agendarem jogos para Domingo às 10 da manhã...). E mostrava-se agora como o António presidente, figurando assim nos anais da História do futebol mundial, lado a lado com geniais individualidades como Beckenbauer e António Oliveira.

Como sócio, adepto e, sobretudo, amigo, não me escusei em tecer o meu comentário:

- Meu caro, és o homem certo no lugar certo. Aliás, olho para ti e vejo 1 Gil y Gil: 1 bêbado descomunal, de fortes convicções e autoritário. Posso-te garantir que és o D. Sebastião que o meu clube precisa. Desejo-te a melhor sorte e peço-te desde já 1 favor: despe essa camisola do Petit...

António olhou para mim e sorriu.

- Agradeço-te, meu velho! Mas ainda não terminei... - disparou ele

- Que mais me queres falar, meu caro? - questionava eu temendo tal surpresa.

- Queria-te dizer que não caminho nesta cruzada sozinho. Posso dizer que procedi a uma escolha cirurgica na ocupação dos cargos que irão desempenhar os elementos da minha equipe. E seria fulcral que "integrá-ses" (se o tivesse escrito, seria certamente assim...) a minha lista. Não aceito um "não" como cabal resposta...

Não sabia o que responder. Fiquei embasbacado! Dirigente de um clube do qual sou sócio e adepto era algo que a pacatez do meio em que escrevo as minhas crónicas não esperaria receber. Eu sei que António sabia dos meus conhecimentos neste mundo futebolístico. Eu sei que ele sabia das excelentes relações que mantenho com diversos agentes desportivos mundiais como Peter Kenyon, Mano Nunes ou Jorge Valdano. Mas não sonharia que algum dia pudesse emprestar tais conhecimentos a algo que tanto amo... Por isto, a minha resposta foi óbvia:

- ACEITO!

- Eu sabia... - disse António. - Comparece amanhã à noite na Exponor, na primeira reunião de lista. Até amanhã...

E assim foi. Estive na primeira reunião de lista, que partilharei consigo, numa Esplanada perto de si...

Aquele abraço,

PÉRICLES