quinta-feira, abril 27, 2006

how much does life weight


Diz-se que perdemos 21 gramas no momento exacto da nossa morte. O peso de uma pilha de moedas, de uma barra de chocolate.

Será ele o peso da vida, da alma que abandona o cadáver fugindo da morte corporal? E para onde se dirige ela? A meditação acerca da morte é um acto universal e partilhado por todos os seres racionais que habitam o planeta.
Mas será que essa reflexão se torna mais pertinente e atenta quando já não existe nada que nos mova para a vida?

21 Gramas narra a história de três indivíduos cujas existências inevitavelmente se fundem quando uma série de eventos muda repentinamente as suas vidas. Paul (Sean Penn) é ameaçado todos os dias por uma morte suspensa, esperando que surja um dador para o vital transplante de coração, enquanto que a sua mulher, Mary (Charlotte Gainsbourg), o acompanha até ao fim, convencendo-o a doar esperma para uma inseminação artificial.
Christine (Naomi Watts) é uma feliz mãe de família que assentou numa casa soalheira dos subúrbios até que um acontecimento marcante a transforma numa mulher perdida e sem rumo. Jack (Benicio del Toro) é um ex-presidiário que volta para a sua família passado um tempo indefinido na cadeia, onde encontrou Jesus e uma maneira de viver a sua vida com mais dignidade e propósito.

Três vidas, três destinos que se cruzam e contemplam a morte de frente. Alejandro Gonzaléz Iñarritu, que causou sensação com o hiper-realista Amores Perros, volta a pegar num tema que poderia muito bem surgir numa telenovela mexicana e condensa-o em algo único e dramaticamente intenso.

A sua visão da morte é uma alucinação perturbadora, que se vai tornando mais clara e nítida à medida que ela se aproxima para a colecta das almas. Mas 21 Grams não é um filme convencional e uma das suas grandes revoluções é a estrutura fragmentada e disjunta da montagem. Iñarritu mostra-nos pequenos quadros, cenas de poucos minutos ou mesmo segundos, que representam diversos instantes da existência de cada um das personagens, com transições repentinas e sem qualquer noção temporal e de continuidade.
Mas o que ao início parece uma atroz e aleatória descrição de acontecimentos, emerge um padrão difuso que se vai tornando mais patente e revelador à medida que acompanhamos a espiral estonteante da história.

Tudo isto com o ultra-realismo que já caracterizava o trabalho anterior do realizador e com a ajuda de um director de fotografia, Rodrigo Prieto que também fez Traffic, que torna as imagens cruas e negras e de uma banda sonora ambiente que por vezes intensifica todas as vivências.

Sean Penn é indubitavelmente um dos grandes actores da actualidade, tendo marcado o ano de 2003 com Mystic River e depois com 21 Grams. E apesar das duas interpretações serem completamente distintas, são igualmente poderosas e é impossível escolher uma delas em detrimento da outra.
Benicio del Toro, que depois de alguns filmes menos preponderantes volta em grande forma e entrega-nos novamente aquela intensidade, embora mais madura e introspectiva, de Traffic. Será injusto para com Penn e Del Toro afirmar que a revelação do filme é Naomi Watts, porque a consistência destes três actores na construção dos papéis é um dos factores do sucesso do filme.
Mas verdade seja dita, Naomi Watts afirma-se novamente como uma actriz admirável, depois do assombro de Mulholland Drive, num papel que por ser mais direccionado e mundano, se torna num desafio impressionante que Watts ultrapassa com uma habilidade e sensibilidade tão avassaladoras quanto surpreendentes.

21 Grams é uma película arrebatadora e um empolgante desenrolar do trabalho de Iñarritu, que se coloca nos lugares primeiros do cinema independente e confirma a promessa espelhada em Amores Perros. A sua segunda longa metragem é uma reflexão penetrante do final a que todos estamos destinados. Mas é sobretudo uma visão desconcertante de tudo o que precede esse final e das decisões que nos afastam dele, momentaneamente, para continuar algo que desprezamos diariamente e por vezes condenamos: a vida. Fica a dica...

5 comentários:

  1. Meu caro cimento fico na expectativa de visionar o filme agradecendo como sempre a tua dica de insuspeita qualidade com certeza. Mas as tuas dicas vão muito para além dos filmes, como ficou comprovado com a nossa presença no ultimo fim de semana por terras de neiva, para uma mariscada precedida de dois verdadeiros dias turcos no gerês, também aí demonstraste a tua perspicacia no sentido de enriqueceres os nossos roteiros gastronomicos sendo que o oposto ocorreu às nossas já de si depalperadas carteiras.....como disse o nosso estimado pericles parecia que o euro milhões nos tinha sorrido.....bem haja e aí vem outro fim de semana

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  2. Com certeza meu caro, depois de um fim de semana como este que passou, o que nos espera neste próximo, so "ele" nos dirá....
    Mas nao fui so eu que dei dicas, ja nao fosse um fim de semana tao grotesco em comida, tiveste a belissima ideia de ir comer aquela deliciosa francesa, para finalizar, em grande meu caro.

    Mas este que ai vem, promete e muito, la estarei, aquele abraço

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  3. Ui,ui, aguaradem por mim, mas eu não vou falar de comida, aguardem pelo meu novo "ex-libris" vindo directamente de Trás-os-Montes...é lógico que vocês sabem do que eu falo!;)

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  4. Meu estimado tuni a tua presença meteorica pelo gerês será lembrada por todos como um dos momentos altos do fim de semana....e ela foi muito influenciada por esses liquidos vindos sabe-se-lá de onde que tu nos brindas regularmente. Obrigado por contribuires para o incremento do alcoolismo da turcalhada...:)

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