DA ESPLANADA DO MILENÁRIO

OS BOBOS DA CORTE

por: Péricles, apicultor

Caro leitor, um enorme bem-haja!

Dando uma olhadela pelo fim de semana desportivo ora findo, eis que me deparou o desafio, deveras aliciante por sinal, de pesquisar com mais pormenor esta figura. Não porque sinta, repentinamente, uma suprema necessidade de elevar a minha ou a sua disposição. Nem este estudo se revelaria de alguma forma de cariz puramente académico, num género de introspecção de "mesinha de cabeçeira". Simplesmente, e porque o âmago desta Esplanada é realçar as vicissitudes que vão ocorrendo à sua volta, é justo indagar sobre esta figura e descortinar a presença dela nos nossos dias, nas mais variadas actividades da nossa sociedade. Pois bem, introduzindo com um pequeno apanhado histórico, o bobo da corte é uma personagem medieval que acompanha o Rei, podendo criticá-lo sem correr riscos. Tendo a sua origem no império romano-bizantino, tornou-se figura comum nas cortes europeias após as cruzadas onde se notabilizou por aquilo que todos sabemos: divertir o Rei e a Corte... Ao que se consta, o seu desaparecimento ocorre durante o século XVII. E aqui, meu fiel leitor, discordo! Refuto determinantemente a veracidade deste facto! E faço questão de lhe provar o que afirmo, dizendo mais, que esta figura encontra-se bem perto de nós, por vezes ao vivo por outras na TV. Contudo, e como tudo o que diariamente vai sucedendo à nossa volta, o bobo modernizou-se e assumiu características díspares, ora proporcionando-nos momentos de autêntico pagode, ora levando-nos aos limites da irritação e da ira. Adoptando o método científico oriundo da Harvard College, é em modelos de case studies que passo a apresentar, OS BOBOS DA CORTE:

Case Study n.º 1:

18 de Março de 1982. O mundo destacava neste dia os 78 anos de existência da Federação Austríaca de Futebol ou o 5º aniversário do francês Willy Sagnol. Ignorava no entanto o nascimento, em Luanda, daquele que viria a arrancar mais aplausos que Martin Luther King: PEDRO MANUEL TORRES! Oriundo de um meio onde predominava a fome e a guerra, Pedro Manuel, após uma experiência fugaz nas "Cortes" de Camp Nou e de várias aparições nas "Cortes" da bela Alverca, ingressa nas sempre animadas "Cortes" rojas do Reino animal chefiado pela águia. Aqui chegado, provoca momentos de verdadeira loucura a todos os seus membros, atingindo um estatuto apenas ao alcance de um predestinado: mascote... Volvido um ano, generaliza-se a opinião de que a Pedro Manuel faltariam as reais características físicas de um bobo medieval, ou seja, que o bobo deveria ser um homem aleijado, corcunda ou mesmo anão. Face a isto, providencia-se para que jogue aleijado, é submetido a intervenção cirúrgica e penoso processo de recuperação, e eis que surje o bobo Pedro Manuel só com um joelho, incapaz de correr em linha recta, espelhando assim de forma crítica o momento actual benfiquista: aos zigue-zagues... Curioso aspecto detectado ao longo deste estudo é o facto de esta personagem se revelar por vezes uma espécie de S.O.S. do Reino da Águia. Volta e meia aparece e... resolve! Comparativisticamente falando, Pedro Manuel leva-nos por demais das vezes a recordar a série de animação Era uma vez a vida: se ele aqui figurasse, seguramente que seria os glóbulos vermelhos... Em jeito de conclusão, cumpre referir a origem da sua alcunha, Mantorras. Mantorras é um vocábulo que significa «homem queimado» e que lhe foi atribuido na sequência de um acidente doméstico ocorrido quando o mesmo entornou uma panela de sopa quente sobre si próprio... Sem palavras para descrever o sucedido, sou obrigado a concluir que estamos na presença de um verdadeiro BOBO e dos antigos!

Case Study n.º 2:

22 de Setembro de 1975. É num contexto de forte instabilidade social da ainda recente Républica Portuguesa pós 25 de Abril que nasce ROGÉRIO PEDRO CAMPINHO MARQUES MATIAS! Marcado pela agitação patente da conjuntura política do seu tempo, sempre se fez acompanhar de uma enorme instabilidade na sua actividade. Sendo alvo de análise no estudo Falta de talento/Sucesso arrasador (vide, Da Esplanada do Milenário - Especial Ano Novo), teima em proporcionar à plateia do anfiteatro vimaranense momentos que, em diferente situação, fariam rebolar de riso a "Corte" da velha Vimaranes no seu trajecto irregular pelo Nacional maior (Ribeiro Cristóvão, ipsis verbis). Falhando na marcação, perdendo o norte das dimensões do recinto, efectuando passes absolutamente absurdos ou simulando desgaste muscular depois de cometer monstruosas fífias, Rogério Pedro adultera por completo o dilema Shakespeariano de "Ser ou não ser, eis a questão" e transforma-o num arrepiante "Estar ou não estar, eis a questão", tal é a inoperancia do seu jogo... Pode afirmar-se que Rogério Pedro assimilou de forma exímia a capacidade de não só divertir a Corte como tirá-la do sério. Constitui, portanto, um BOBO bastante completo.

Case Study n.º 3:

28 de Julho de 1981. Por esta data já o Ipswich Town de Bobby Robson tinha "limpado" a Taça UEFA bem como já poderíamos assistir na grande tela à obra-prima "Fuga para a Vitória", brilhantemente realizada pelo grande estratega da sétima arte, John Huston (we have a problem...). Vinha ao mundo MÁRIO SÉRGIO LEAL NOGUEIRA, certamente na senda da película referida anteriormente que seguramente teve o dom de influenciar grandes pensadores do futebol actual, tais como Trappatoni, Cappelo, João Eusébio ou Mourinho. Mário Sérgio dá nas vistas desde muito cedo e, naturalmente, assina pelas "Cortes" do Visconde de Alvalade. Na sequência de um período em que vive na sombra, decide dar uma lufada de ar fresco na sua carreira e rumar ás "Cortes" de Vimaranes. Aqui, em parceria com o supra citado Rogério Pedro, tem actuações de sacar um sorriso mesmo ao mais sisudo dos treinadores de bancada... Numa complexidade física que se traduz num misto de Stig Tofting com Ricardo Rojas, Mário Sérgio assume performances capazes de integrar o lote de episódios de apanhados do desporto que entram por nossas casas no dia 31 de Dezembro. Destaque para o seu número constituido por cruzamentos que, à boa maneira da comédia britânica, são transformados em autênticos ensaios de Rugby! Atinge o seu momento de glória na actuação desenvolvida nas "Cortes" de Sevilha onde desempenha com brilhantismo o papel de boneco da Marcha Gualteriana ao tentar "secar" Saviola e Adriano. É, por tudo isto, considerado um dos mais promissores BOBOS da actualidade...

Reflexão da semana:

" Tinha 19 anos e o Porto a meus pés! Um dia, cheguei a casa às quatro da manhã, olhei-me ao espelho e disse: Paulo, isto não pode continuar, isto não pode continuar! E foi assim que me tornei no melhor jogador de Futebol do Mundo" - Paulo Futre (homenagem da equipe do Esplanada a mui enorme bobo da corte)

Aquele abraço,

PÉRICLES