quarta-feira, julho 19, 2006

As raízes do Povo Americano


Realizador: Martin Scorsese
Intérpretes: Leonardo DiCaprio, Daniel Day-Lewis, Cameron Diaz, Liam Neeson, Jim Broadbent, John C. Reilly, Henry Thomas, Brendan Gleeson, Alec McCowen, David Hemmings, Cara Seymour, Gary Lewis, Tim Pigott-Smith, Barbara Bouchet

É impressionante como alguns realizadores, como Martin Scorcese, conseguem ao longo de décadas criar grandes filmes após grandes filmes e nunca perder (ou quase nunca) a sua vitalidade numa demonstração de pura genialidade. Portanto, em "Gangs of New York", Scorcese oferece-nos de novo um grande filme.
O filme tem como enredo base a luta de gerações entre os "nativos" americanos e os irlandeses (e de todos os outros países por extensão) que iam chegando de barco aos Estados Unidos no séc. XIX. Luta esta que se concretiza em confrontos sangrentos entre os gangs.
Numa dessas violentas lutas, os "nativos", grupo caracterizado pela discriminação e xenofobia face aos povos recém-chegados vencem um conjunto de "gangs" irlandeses entre os quais estão os "Dead Rabitts", a mais influente comunidade irlandesa na cidade.
Estes, porém, são derrotados aquando da queda do seu líder, o Padre Vallon (Liam Neeson), morto por Bill the Butcher (Daniel Day Lewis), líder dos "nativos".
A tudo isto assiste o filho de Vallon, de tenra idade, que vinha sendo educado nos princípios guerreiros e de valor moral e religioso do pai.
Está preparado o terreno para uma vingança que decorrerá 16 anos mais tarde, com Amsterdam (Leonardo Di Caprio) já um homem. Porém, apesar desta história já muitas vezes vista de vingança do pai morto, "Gangs of New York" é muito mais do que a história que conta.
Conta com aspectos ligados às raízes do país americano, tanto do seu aparecimento como do seu crescimento (a guerra civil atravessa todo o filme, interligada com a narrativa principal) como fala de sentimentos e valores como vingança, racismo, ódio, amor e honra dos líderes da altura. Retrata ainda com mestria o funcionamento das mini-sociedades que o filme nos apresenta, com as suas características e particularidades próprias.
Um tema importante deste filme é,( já tinha sido em "Idade da Inocência"), como a sociedade na sua organização e progresso é sempre mais forte que um homem sozinho, por mais determinado que este seja.
No fim, ficamos com aquele pensamento, de que o mau se calhar não é todo mau e o bom não é todo bom, algo bastante importante nos dias de hoje, onde se tende a filmar a vida entre o "preto e o branco" .

O filme em si é lindíssimo e uma grande experiência cinematográfica. As quase três horas passam sem dificuldade por causa da belíssima fotografia e banda sonora (que nos assaltam desde o plano inicial), pelos cenários e vestuário feitos com visível amor e detalhe, pelos fantásticos movimentos da câmara. Tudo isto cria um ambiente empolgante, épico e histórico. Para este ambiente muito contribui o impressionante leque de grandes actores (a performance de Daniel Day Lewis é brilhante), como muito raramente se vê num só filme.
O final é grandioso, pois o filme ultrapassa a simplicidade da sua narrativa principal para mostrar em apoteose a sua verdadeira mensagem, que é forte e profunda. O ritmo dos últimos 45 minutos é simplesmente de cortar a respiração.

Com aspectos que nos fazem lembrar filmes tão diversos como "Lista de Shindler", "Titanic", "Braveheart", O Resgate do Soldado Ryan", "Os Miseráveis" e dos filmes de "O Senhor dos Anéis", este é seguramente um épico que ficará na história do cinema e que se vêm juntar ao quadro de filmes fundamentais sobre a história americana, como "Apocalipse Now", por exemplo. Fica a dica....

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