quarta-feira, julho 12, 2006

DA ESPLANADA DO MILENÁRIO

"Onze Maradonas provavelmente não derrotariam onze Tiagos, Costinhas ou Rochembacks. Todavia, os Maradonas jamais deixariam de ser os favoritos aos olhos das plateias espalhadas por esse Mundo fora."
in algures na net, 12/07/2006
MARADONA HÁ SÓ DOIS
por: Péricles, back-packer
Ano de 1975. Em mais um ano de múltiplas e fascinantes viagens, encontrava-me em Bucareste. Propositadamente. Tinha adquirido o meu ingresso para o sempre escaldante Steaua Bucharest (leia-se Stóia...)-Universitatea Craiova. Há clássicos que não se podem perder e este era um deles... Três horas precediam o jogo. Em passo acelerado, apressava-me em direcção ao estádio por entre uma das principais artérias da intrigante Bucareste, em terra batida. Subitamente, aquele miudo franzino dirigiu-se a mim. E porque sabia que nessa localidade olhar sistematicamente para trás das costas é uma constante, decidi aligeirar a minha passada. Contudo, o rapazola não saía do meu encalço. Apercebendo-se, rapidamente me falou: "Ó Sr., desculpe"! (Diálogo este ocorrido em língua romena mas que por facilidade de compreensão o apresento já totalmente traduzido). "Estou com pressa" respondia eu. "Descanse, não quero dinheiro ou mesmo comida", soletrava aquela doce voz. "Só lhe quero fazer um único pedido", dizia o miudo. "Nesse caso... diz lá então", atirei sem hesitar. "O Sr. está a ver esta bola?", dizia o miudo apontando para uma bola de capão barato. E continuou: "O Sr. quer fazer um joguinho contra mim, só um contra um, de futebol de rua?". Apartir daqui, 4 palavras apenas ocuparam a minha mente: "Puto, aquece, vou-te esmagar!".
A bola foi para o centro do terreno. Dei por mim e sentia um La Bombonera a abarrotar a entoar o meu nome! Nessa época, tinha um pé direito capaz de fazer inveja ao Fernando Aguiar. O jogo iria então começar. Até sentia aquele arrepio na espinha... O miudo deu sinal de "ok" e começou a partida. Saía eu com a bola. Num gesto técnico primoroso, puxo logo a bola para o meu pé forte, o direito, portanto. Vejo o ganapo a recuar para a sua baliza desesperadamente. Foi então que "puxei a colatra atrás" e disferi um estoiro de bradar aos céus! A bola, essa, já a via a anichar no fundo das redes e prontamente ergui os meus braços em forma de "V", de modo a celebrar um golo de bandeira com a restante afficíon. Erro! E crasso. Aprendi aí que nunca deveria ter desvalorizado o cachopo. Ninguém neste mundo seria capaz de exprimir por palavras as imagens com que eu me deparei. Num rasgo alucinante, aquele meia-leca interpôs-se por entre a bola e o alvo que eu pretendia visar. Com toda a elegância, matou aquele "tiro morífero" no peito e deixou a bola à sua mercê. Perante tal situação, desatei a correr em direcção à minha baliza. O miudo, progredia imaculadamente com a bola no pé pelo flanco esquerdo. De facto, aquele miudo tinha um pé esquerdo capaz de fazer inveja ao Areias. Já comigo na baliza, e a 35 metros da mesma, aquela criatura faminta disfere um estoiro de bradar aos céus! A bola, essa, acabaria por entrar no canto superior esquerdo, lá, onde a coruja dorme...
Fiquei pregado na baliza a olhar fixamente para aquele miudo. Na ressaca do golo, dois pensamentos invadiram o meu cérebro: 1- de que não havia estádio nenhum; 2- de que com aquele estoiro olímpico poderia ter desmontado o miudo. Mas isto não seria mais do que um adiamento da conclusão que teria forçosamente que retirar... Olhando para trás, a bola estava anichada no fundo das redes. E tinha acabado de "comer" um golão... Sem respostas, caminhei de imediato em direcção ao miudo. E sem hesitar, atirei: "Ui...". E continuei: "Como é que te chamas?". "Sou o Gheorghe", replicou o chavalo. "E diz-me Gheorghe, onde foste tu buscar esse enorme talento?", questionei eu, devorado por uma asfixiante curiosidade capaz de engolir mais pregos do Sr. Pereira do que o ilustre Basturk. E a sua resposta entraria no meu ouvido de forma mais harmoniosa que a guitarra de Carlos Paredes: "Ó Senhor... Maradona... há só dois?"...
Mas que quereria aquele pirralho dizer com aquilo? Maradona há só dois? Talvez o problema fosse mais profundo. Talvez ele se estivesse a referir às duas facetas de El Pibe: ora Deus, ora Diabo. Mas aquele rapaz não se preocuparia certamente com isso. A resposta seria bem diferente, intuia eu. A verdade, era que aquela afirmação não fugia dos meus pensamentos, ainda que me sentisse impotente na procura do seu significado. Todos os dias eu matutava naquilo. E todos os dias eu via a minha própria cara a olhar para o miudo como o Tuni a olhar para uma garrafa de água mineral: "Mas o que será isto?", pensava eu. Mas sempre que procurarmos, obteremos respostas. E eu viria a obter a resposta, 19 anos mais tarde...
Campeonato do Mundo de 1994. No grupo A defrontavam-se Roménia e Colômbia. Áquela hora tardia, preparei apressadamente as minhas Estrelitas com leite morno, 5 minutos antes do apito inicial. Do onze inicial das duas equipas não constava qualquer surpresa. O jogo, previa-se aberto e disputado. E os primeiros minutos do encontro confirmariam as minhas previsões, apimentados com um golo de Raducioiu logo aos 16 minutos. Passaram-se mais 18 minutos. Ou seja, minuto 34 do encontro. Hagi recebe a bola sobre o lado esquerdo. Puxa a mesma para o pé esquerdo e, subitamente, disfere um estoiro de bradar aos céus a 35 metros da baliza! A bola, essa, iria anichar no fundo das redes, no canto superior esquerdo, lá, onde a coruja dorme... Resultado? Um ar absolutamente incrédulo a olhar para o televisor e a carpete manchada de leite e Estrelitas por todo o lado! Porém, 19 anos depois, TINHA ENCONTRADO A RESPOSTA!!!
Hagi já não era o pequeno Gheorghe que me "espetou" um golaço. Hagi era então um fabuloso regista, pai e patrão da Manschaft amarela de leste. E o pequeno-grande Gheorghe Hagi encarregou-se de mostrar a milhões de espectadores que Maradona há só dois: O das Pampas e o dos Cárpatos. E foi o dos Cárpatos que eu aprendi a admirar. A ti, meu caro amigo Gheorghe, digo-te até breve! Espero estar, daqui por 1 mês, a beber uma cerveja contigo, na encantadora marginal da não menos encantadora Costinesti...
ATÉ BREVE, ROMANIA!
Aquele abraço,
PÉRICLES

4 comentários:

  1. Viva ao maradona dos Cárpatos! Valeu Péricles, adormeces-te provavelmente depois das duas da matina para aclamar este mago que tanto nos ensinou, estou ctg na cerveja daqui a 1 mês!

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  2. tenho de admitir que nada melhor do que começar um dia de trabalho bebendo estas palavras do pericles sendo sempre ele capaz de nos fazer sorrir...obrigado. Uma nota final aquela comparação envolvendo a minha pessoa, em relacção aos pregos do sr Pereira, não a engoli muito bem..:) abraço

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  3. Saiam mais umas lições do tonecas!
    adormeces-te????????????'
    ou
    adormeceste!!!!

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  4. I remember the saves i made in 94 in our Mundial at my contry...Gica Hagy don t had any chances with me cause im the special one at the net...
    Guys if you want next year you can make an interrail in Usa...but i have got to tell you a bery nice secret...hear we dont have cities like costinesti or siofok...but i can take you to Alaska!
    God save my country.

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