DA ESPLANADA DO MILENÁRIO - IIª SÉRIE

Há assuntos que, por muito que se tente, não conseguimos fugir deles. E este é de tal forma marcante que se inscreve no primeiro post da IIª Série da Esplanada do Milenário, no último dia de 2008. Há duas semanas, em edição do JN, LUÍS CAMPOS anunciava o seu derradeiro adeus do comando técnico de equipas de futebol. Há duas semanas, em meados de Dezembro de 2008! E logo aqui começa a preciosidade do seu anúncio: é que Campos sentiu o cheiro da relva, pela última vez, no ano de 2005; ou seja, 3 anos e meio após veio o “basta!”, tal e qual Paulo Futre após aqueles 2/3 piques e o estalar do joelho… É caso para dizer: “Jure, Mister Campos, o senhor deixou de ser treinador? É que ninguém seria capaz de prever tal decisão”…
No derradeiro discurso, a vitimização do costume. Foi-se lendo que Campos, afinal, sempre foi o alvo a abater e que recusou alguns convites do estrangeiro durante este seu “período de reflexão”. E que clubes foram esses, ex-Mister Campos? Porquê informar o seu clube de fãs só agora? Perguntas estas que se ficarão pela mera retórica. Continuando pela sua obra discursória, pode-se ler ainda o seguinte: “fui, inclusive, acusado de ter descido 3 equipas numa época quando, nessa mesma época, apenas orientei duas equipas”. Centremo-nos então nesta sua afirmação pois é aqui que o seu discurso padece do maior equívoco. É, pois, o “erro de Campos” que se passará a analisar.
O flash-back leva-nos até finais de Maio de 2003. Na recta final da época 2002/03, a luta pela manutenção, à semelhança de muitas outras épocas, era titânica. Digladiavam-se heroicamente pelo almejado “lugar ao Sol” da Primeira Liga, Vitória de Setúbal, Varzim SC, Santa Clara e Académica/OAF. Na penúltima jornada, o Vitória de Setúbal, que havia sido orientado por Luís Campos na primeira volta, tinha já selado o carimbo da IIª Liga: a primeira equipa que Campos desceu, portanto. O Varzim, então orientado por Campos, havia feito uma primeira volta notável sob o comando de José Alberto Costa e o cunho de Quim Berto e Rui Baião. Uma segunda volta de sentido oposto, com Campos no comando, repita-se, atiraria os poveiros para a sempre quente luta pela sobrevivência. Nessa mesma penúltima jornada da Liga, a Académica, do poeta Artur Jorge, ainda de bigode, deslocava-se à Póvoa para defrontar o Varzim. A classe dos briosos Pedro Roma e Paulo Adriano culminaria na vitória dos estudantes por “3 secas”, no reduto poveiro. Tudo a decidir na última jornada, portanto, com um escaldante Santa Clara – Varzim a ocupar os microfones da rádio. A matemática da derradeira jornada era a seguinte: O V. Setúbal condenadíssimo (1º “golo” de Campos); O Varzim, em caso de vitória, mantinha-se no Nacional maior, desde que a Académica perdesse; O Santa Clara, em caso de vitória, garantia automaticamente a manutenção e, em caso de empate, desceria de divisão caso a Académica vencesse.
Nos instantes finais de todos os jogos, a Académica vencia. O Varzim estava irremediavelmente na Segunda Liga (2º “golo” para Luís Campos, portanto). Ao Santa Clara bastaria a vitória para ficar entre os maiores. E qual o resultado, então, desse escaldante e decisivo Santa Clara – Varzim? Um colossal, titânico e inenarrável 2-2 (!), que atiraria o Santa Clara para a Segunda, local de onde, refira-se, nunca mais saiu. Ou seja, Campos, na cara do opositor directo, adoptou o clássico “eu vou-me afundar! Mas levo-te comigo!”, havendo claramente o seu dedo na descida do Santa Clara, o seu 3º “golo” por assim dizer.
Por tudo isto, dou razão aqueles que dizem que Campos desceu não 2, mas 3 (três) equipas num só ano! E por tudo isto eu peço a Campos que reconsidere na sua decisão de abandono: já sinto falta de perder o ar de tanto me rir a ver futebol. O futebol ficou mais pobre sem Campos, sem os seus rasgos de genialidade táctica. E se esse regresso fosse para o Sporting Clube de Braga… até me punha nu no Toural!

Aquele abraço,

PÉRICLES