quinta-feira, junho 08, 2006

DA ESPLANADA DO MILENÁRIO

ARMANDO PETIT, o "pitbull"
Tragam a mordaça e rápido...
MENTE SÃ EM CORPO SÃO… OU TALVEZ NÃO…





por: Péricles, utilizador de cartões MB

Caro leitor, um magnânime bem-haja!
25 de Setembro de 1976. A imprensa dirigia as suas objectivas para o 24º aniversário de Cristopher Reeve, o eterno Super-Homem. Enquanto isso, talvez na senda de tamanho heroísmo, a encantadora Estrasburgo via nascer mais um filho: ARMANDO GONÇALVES TEIXEIRA! Curta se tornou a sua estadia por território gaulês. Volvidos 3 anos após o seu nascimento, o “petit” Armando caminha braço dado com os seus pais e radica-se, quiçá via Sud-express, na sua verdadeira pátria, no sítio onde se viria a tornar feliz: a milenar Lusitaneae. E aqui, que melhor porto de abrigo que o bairro do Bom Pastor, na cidade invicta… Seu pai, estucador, impulsionado pela cultura de liberdade, igualdade e fraternidade, desde cedo mimava o seu Armando o mais que podia. Era o seu petit garçon, dizia ele. E desde então o pequeno Armando não mais foi Armando, era o PETIT.
No decorrer desta semana, por entre um Martini Bianco decorado com uma casca de limão e azeitona, discutia, no Café Concerto, em Vila Flor, com o meu amigo Poirot as questões afloradas nas Jornadas de Língua Portuguesa, às quais marcamos presença. No decurso desse estimulante debate deparamo-nos com um curioso fenómeno instintivo inerente a todos nós. Quantas vezes o meu fiel leitor não dá por si diante do seu televisor, ligeiramente encolhido e com as mãos a ocultar a sua cara, possuído por uma devastadora vergonha? Mormente, sentirá o descrito ao escutar um emigrante português em França ou um barbeiro vimaranense. Mas estaria longe de imaginar que tal me sucederia escassas horas depois… Já em casa, saboreando um delicioso jantar junto dos meus, usufruíamos, como sempre, da companhia da caixinha mágica que mudou o mundo. O silêncio naquela cozinha deu lugar ao treino da nossa Selecção. E num preciosismo da equipa de reportagem, vejo sentado na mesa da conferência de imprensa, nada mais, nada menos, que esse menino, agora homem, de Estrasburgo, o Armando Petit! Não demorou 1 minuto sem que estivesse, eu e os meus, ligeiramente encolhidos e com as mãos a ocultar a cara, possuídos por uma devastadora vergonha… Em suma, Armando Petit fala e eu tenho vergonha de ser português…
Cerca de 30 anos após o nascimento de Armando Petit proponho ao meu caro leitor um pequeno desafio muito simples: o de entrar nos seus pensamentos. Consequentemente, pensaremos, eu e você, em comum: Mas porque carga de água merecerá Armando Petit um post? Será por ter sido campeão nacional em duas ocasiões? Decididamente, não! Será por ter perdido a titularidade na Selecção Nacional? É indiferente… Será por ser um autêntico “carniceiro” dentro do campo? É naquela. Ou será por se revelar uma nódoa no campo da comunicação? O meu fiel leitor pensará “seguramente…”. Mas será por isto e por muito mais. Aliás, Petit não merece um post, não merece um blog inteiro. Petit abre a boca e merece um debate na Assembleia… E merece ser debatido na Assembleia porque Petit é isso mesmo, uma afronta à democracia. Petit fala e derrota todos aqueles que passaram suas vidas a pugnar pela liberdade de expressão. É um verdadeiro assassino, só encontrando paralelo com Brutus ou Robespierre… E é por esta razão que o meu diploma de treinador da AF de Braga continua bem arrumadinho no fundo do baú. Jamais seria seu Mister. Ora porque nunca lhe diria que "temos que comer a relva se for preciso" ou "há que deixar a pele em campo", pois teria receio que o levasse à letra, ora porque nunca lhe diria que é "só juntar dois mais dois", pois teria receio da sua resposta…
Acresce que, além de soltar uns grunhidos estranhos quando abre a boca, Petit mente descaradamente quando é perceptível uma ideia no seu discurso. Com fama de jogador violento (como é possível pensar-se isso?…), e instado sobre esta matéria, Petit grunhiu o seguinte: "Fui ao último mundial e nem levei um amarelo, nem fiz qualquer entrada dura.”. Qual é o meu espanto quando, em sede de estudo para o mundial que se aproxima, analiso o Estados Unidos – Portugal do pretérito Mundial e lá me deparo com o nome de Armando Petit, com um pequeno "cartãozinho" amarelo atrás do seu nome no minuto 51, constante de uma coluna que referia DISCIPLINA!!!. A comprová-lo, peço encarecidamente ao meu amigo leitor o favor de se dirigir a este site: http://www.maisfutebol.iol.pt/fichajogo.php?param1=10128. Mas compreendo. Disciplina será um vocábulo que seguramente não entrará nas contas de Armando Petit, ora porque não o pratica de todo, ora porque não conhece o seu significado. Ainda assim, escusado seria voltar a pôr a pata na poça. Porque Armando Petit já mais não é aquele menino do Bom Pastor, Armando Petit anda agora nas bocas do mundo (bom seria se tivesse o mundo civilizado na boca…). E porque assim é, na sua mente só poderia surgir o Manchester United. Mais uma vez, instado sobre essa matéria, Armando Petit voltou a grunhir: "Sim, há interesse do Manchester e de algumas equipas, mas para já a atenção está virada para a Selecção. Qualquer jogador gostaria de jogar no Manchester". E a resposta surgiu, não do seu empresário, nem da dupla Vieira-Veiga. Surgiu de Carlos Queirós, treinador-adjunto do MUFC: "Neste momento as opções do Manchester United não passam por Petit"...
Já sobre a “cavalgada” no estágio da Selecção, farei como Miguel Sousa Tavares: nem irei comentar…
Nas minhas conclusões, quero desde já endereçar um sincero pedido de desculpas a Tuni. Meu caro amigo, como podes ver pelo exposto, apelo ao teu bom coração e peço-te que me perdoes por te ter dado uma ficha de português…
De seguida, quero com este post lembrar que um só homem foi capaz de destruir este dogma da civilização helénica e que consta do título desta crónica. Corpo são? Lá isso não há quem duvide. O pobre do Armando é uma carga de trabalhos: dá pau que se farta e corre como um desalmado. Mas é no que toca à mente que tudo se desmorona. Armando Petit fala e rebenta com civilizações ricas em cultura, com milénios de conhecimento. Este primata é, na realidade, um bom pastor. E Armando Petit fala e, consequentemente, Sócrates, Cícero, Camões ou Homero, no fundo de suas sepulturas, permanecem ligeiramente encolhidos e com as mãos a ocultar a cara, possuídos por uma devastadora vergonha…
“Ó ARMANDO, ÉS UM BEGUEIRO!!!”

Aquele abraço,

PÉRICLES

2 comentários:

  1. Cá estou eu no brasil em directo da praia do copacabana, ligado a este blog que hoje me supreendeu com esta cronica a fazer lembrar-me esse homem das cavernas de seu nome Petit.
    Confesso que sou um admirador desse SR. pois revejo-me em algumas das suas principais caracteristicas, ou seja, disciplina, seriedade, fair play e uma notavel erudiçao vocabulistica só mesmo ao alcance de alguns predestinados.
    Ele chuta daquela boca palavras e frases incriveis, com a mesma força que marca livres num jogo, é sem duvida um jogador que nas conferencias de imprensa brilha ao mais alto nível, que nem mesmo os jornalistas conseguem acompanhar o seu raciocinio...
    Por isso não podia deixar de homenagear com estas palavras esse monstro da lingua Portuguesa e do nosso "futibol"!!!
    Um bem haja para todos e continua Petit...

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  2. Petit, que dizer desse pequeno grande jogador, penso que Pricles traduziu de forma rigorosa tudo o que podemos esperar deste ser. Numa entrevista televisiva em que aparecia Petit mais sua filhota ou filhote já não me recordo ele tem esta expressão que me comoveu, filho/a pergunta "aonde vais?" e pequeno, que se deslocava para um treino responde,: "vou ganhar tostão!!" tenho dito. saudações

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